anima

 

«Sócrates, para o benefício do gênero humano e para as almas dos jovens,

foi enviado ao mundo daqui de baixo».

 

Os numerosos, diversos e por vezes contraditórios comentários feitos pelos filósofos sobre a alma, não devem desanimar o leitor inteligente. Há quem diga que a alma é imortal, sic et simpliciter; quem afirme, como Plotino, que uma parte da alma permanece no alto e uma parte desce ao mundo sensível; quem, como Aristóteles, que a alma é parte do corpo e que, quando o corpo morre, a alma se vai com o último suspiro; e quem, como Platão, forneceu pelo menos três provas para demonstrar que "a alma é imortal", provas que ainda são válidas nos estudos filosóficos dedicados à alma. Todos têm razão e nenhum está errado. Têm razão porque suas análises são fruto de estudos cuidadosos e reflexões profundas, têm (talvez) errado porque nenhum deles pôde ver com os olhos sensíveis do corpo o que é a alma e conhecer seu destino. Escreve Arturo Reghini no "Dicionário Filológico" no verbete "alma":

A prova absoluta da sobrevivência da alma humana não pode ser dada, porque a demonstração absoluta só se dá em matemática. A prova absoluta da sobrevivência da alma humana consiste apenas na experiência pessoal dessa sobrevivência; e, portanto, na lembrança por parte da consciência de ter passado pela morte.

A solução absoluta do problema não pode consistir senão na experiência ou conhecimento direto da consciência; ou seja, não na investigação científica ou especulação filosófica, mas na conquista de um determinado estágio da vida interior que pode dar a prova absoluta da sobrevivência da alma.

A alma, embora seja uma unidade, se compõe de três partes: a mens (mente), a ratio (razão) e o idolum (imagem); o corpo se divide em duas partes, o corpo elementar aéreo e o corpo elementar composto. A luz divina que ilumina a mens desce através desta escala e assim se tem o intelecto na mens, o raciocínio na razão, a faculdade imaginativa no eidolon; descendo mais, adquire um caráter corporal, e no corpo humano de carne torna-se até visível ao olho.

"E os latinos chamaram 'ar' de 'alma', como princípio de onde o universo tem o movimento e a vida, sobre o qual, como fêmea, opera como macho o éter, que, insinuado no animal, foi chamado de 'animus' pelos latinos; daí a vulgar diferença de propriedade latina: 'anima vivimus, animo sentimus'; tal que a alma, ou o ar, insinuada no sangue, seja no homem o princípio da vida, o éter insinuado nos nervos seja o princípio do senso; e na proporção em que o éter é mais ativo que o ar, assim os espíritos animais são mais móveis e rápidos que os vitais; e como sobre a alma opera o ânimo, assim sobre o ânimo opera o que os latinos chamam 'mens', que tanto vale quanto 'pensamento', daí ficou para os latinos a chamada 'mens animi', e que o pensamento ou mente seja enviado aos homens por Júpiter, que é a mente do éter." (G.B.Vico, Autobiografia, Milão, 1959).

A alma também foi chamada de "Alma estável e não cadente: sahu: este termo, usado nos últimos textos do hermetismo alexandrino, designa o corpo pelo qual o defunto conquistava e assegurava a imortalidade e a bem-aventurança. De fato, aha na antiga língua egípcia significa ficar em pé, enfrentar, e como o prefixo "s" serve nesta língua para formar os verbos causativos, assim saha significa fazer ficar em pé, colocar em pé, erigir, endireitar, colocar. No antigo egípcio, o morto também era chamado de kherit, ou seja, aquele que caiu; e era apenas através do sahu, o corpo que fica em pé, formado através das cerimônias rituais e das palavras sagradas pronunciadas por Thot Hermes, que a imortalidade era possível. Observe-se que o nome Tat do interlocutor do diálogo que declara ter se tornado estável graças a deus, não é outra coisa senão a exata transcrição grega da palavra egípcia Tat, palavra que significa estabilidade, duração, e é usada especialmente para indicar o "repouso divino, o estado de estabilidade perfeita (objetivo final da alma)"; assim no primeiro capítulo do Livro dos Mortos se lê: Eu sou Tat (ou seja, eterno), filho de Tat (o eterno), eu sou concebido em Tatu (na eternidade)"; e o hieróglifo que se pronuncia Tat é o nilômetro, ou seja, o tronco de tamareira sobre o qual a tradição narrava que os restos do cadáver de Osíris foram parar antes de sua ressurreição. Na língua grega, o verbo αν-ιστημι e a palavra ανά-στασις, que significam ambas etimologicamente a mesma coisa significada pelo egípcio saha, são usadas por Heródoto e desde Homero no sentido de ressurgir da morte.1

E quero basear-me no comentário de Reghini para fazer algumas poucas considerações sobre a alma. É premissa que sobre a existência e a imortalidade da alma ninguém pode pronunciar-se de maneira definitiva e ninguém jamais pôde dizer a última palavra porque, como reconhece o matemático florentino, "a prova absoluta da sobrevivência da alma humana pode ser dada apenas em matemática".

Lembro-me com uma certeza quase absoluta de que nenhum dos filósofos que se ocuparam da alma recorreu à matemática para demonstrar sua imortalidade. Então, é lícito deduzir que todas as chamadas provas fornecidas por eles são apenas suas "provas" e não "as provas" incondicionais e absolutas.

É verdade que os grandes mestres da filosofia, de Platão a Plotino, em seus discursos sobre a alma nunca emitiram sentenças definitivas e nunca se proclamaram doutores laureados em verdade sobre um assunto tão delicado. Estando as coisas assim e com esses precedentes, também dizer poucas palavras sobre a alma é terrivelmente difícil e arriscado.

Não obstante, sinto-me inclinado a arriscar e, ao fazê-lo, quero basear-me nesta frase de Reghini: "...a prova absoluta da sobrevivência da alma humana consiste apenas na experiência pessoal dessa sobrevivência; e, portanto, na lembrança por parte da consciência de ter passado pela morte..."

Em poucas palavras, e para "não fazer rodeios", como diria um bom toscano, a "prova absoluta" só pode ser dada por quem, na memória pessoal de sua própria consciência, passou pela experiência da morte.

Francamente, porém, pergunto-me: quantos estão em condições de fornecer essa "prova absoluta", ou seja, não uma simples prova, mas uma "prova suprema", uma daquelas provas que não podem ser contestadas ou questionadas! Apenas quem passou pela experiência da morte em vida, mantendo-se vivo. Seria essa a prova definitiva?

Manlio Magnani, em "Supremo Vero", resolve minhas dúvidas e incertezas, dando-me uma resposta clara e "reconfortante" quando escreve que:

O homem chama morte ao fim de uma forma no aspecto fenomenal percebido por seus sentidos. Enquanto, na verdade, aquilo não é a morte, mas o sinal, o reflexo, o símbolo da morte, poderíamos dizer um aspecto analógico da morte.

Portanto, morte deve ser entendida como o fim em relação à manifestação fenomenal, a cessação do estado de necessidade ou de "ordem" proveniente do caos. Por isso, é uma palavra a não ser referida apenas a uma existência efêmera. Talvez por isso os antigos atribuíam a imortalidade a tudo o que concebiam como superior ao homem e ao físico, por exemplo, os deuses ou Deus. Nas iniciações, falava-se da morte do iniciado para renascer imortal quando iniciado; porque o iniciado realizou a consciência do ser, superou o caos, embora ainda carregue ao seu redor o pesado apêndice fenomenal e formal da existência humana e física. Este é o significado pleno da palavra morte.

Segundo a afirmação de Magnani, "os antigos atribuíam a imortalidade a tudo o que concebiam como superior ao homem e ao físico", e consigo, então, vislumbrar a verdade sobre a imortalidade da alma, após descartar, seguindo a sugestão do mesmo mestre pitagórico, qualquer atribuição de "imortal" a qualquer coisa que tenha os caracteres, a forma e as dimensões do mundo físico.

 

1 REGHINI, Arturo, DizionarioFilologicocompilado por SESTITO, Roberto. AssociazioneCulturale IGNIS, 2008, 2ª edição. Ancona, Itália.

 

Salilus

Traduzido por ♃268